Mark Tansey Monte Sainte Victoire

domingo, 23 de outubro de 2011

Etimologia razão, pensamento, cogitar, conceito

Intuição / razão
Ratio latim –significa contar , reunir, separar, calcular. Logos, grego, mesmo significado. Razão significa pensar e falar ordenadamente, com medida, proporção, clareza e de modo compreensível aos outros.
Intuição compreensão global e instantânea da realidade, de um fato ou objeto, insight  ‑ Intuição sensível, psicológica, lembranças, sensações, sentimentos, desejos, refere-se aos estados do sujeito enquanto ser individual e corporal: objetos e sujeitos específicos.
Intuição intelectual: dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, ao mesmo tempo. O todo é maior que as partes
Descartes, Penso, logo existo, não preciso demonstrar.
A razão discursiva.

De acordo com dicionário Houaissq pensamento e reflexão:
Pensamento: dicionário Houaiss: rubrica filosofia atividade cognitiva, racional; conhecimento por conceitos.
Etimologia dicionário Houaiss: lat.tar. penso,as,ávi,átum,áre 'pensar, cogitar', no lat.cl. 'pesar, examinar, ponderar, considerar, meditar, ruminar, compensar, ressarcir; permutar, trocar, cambiar; satisfazer', v.freq. de pendère 'pesar, examinar, ponderar; estimar, prezar; ter de peso, pagar, dar em paga, expiar', do qual deriva por meio do rad. do supn. pensum; o lat.tar. pensáre parece ter sido um desaguadouro das acp. do lat. cogitáre 'pensar, meditar, ter um pensamento ou sentimento, formar uma idéia, conceber' e do lat. putáre 'calcular, examinar, apreciar, avaliar, estimar, prezar, julgar, crer'; cogitáre 'pensar' é cultismo, sua f. divg. vulgar é cuidar 'tratar de; pensar', o lat. putáre não veio para o port. a não ser algum der. seu como o adj. putativo; da convivência entre cogitáre e pensáre terá surgido a expansão semântica de pensáre para as acp. 'cuidar de, tratar de' comuns ao port. (sXIII), ao esp. (sXIV), cat. (sXIV) e fr. (sXII); a propósito do fr. panser 'cuidar de', deve-se ter em mente que até o sXVIII encontra-se um que outro registro da grafia penser (a grafia atual é o modo como os franceses estabeleceram a distinção entre as duas áreas semânticas de pensar); Nascentes, comentando a ampliação semântica de pensar para 'cuidar de, tratar de', admite que talvez tenha havido a infl. do v. cuidar, do lat. cogitáre; por sua vez, o TLF, ao comentar a mesma expansão semântica do v. penser 'exercer atividade mental' para 'cuidar de', admite a possibilidade da infl. de expr. como penser de 'tomar cuidado de, preocupar-se com' correntes em fr. no sXII; finalmente deve-se observar que pensar é divg. erud. de pesar; ver pend-; f.hist. sXIII pensedes, sXIII penssamos, sXIV pensar, sXV péénsey, sXV penção, sXV pesaaes 'submeter algo ao raciocínio lógico', sXIII pensava, sXIII penssou 'aplicar penso'

Reflexão: etimologia: lat.tar. refléxìo,ónis, de refléxum, supn. de reflectère 'refletir', de flectère 'curvar, dobrar, vergar'; na acp. 'concentração do espírito sobre si próprio' e nas que daí derivam houve influência tanto do v. fr. réfléchir 'refletir' quanto do subst.; ver flex-


De acordo com Giorgio Agamben:

O desejo que há na procura procede de quem busca e, de alguma maneira, permanece suspenso, até repousar na união com o objeto enfim encontrado. Esta é uma sentença de Sto Agostinho caracterizando o processo de conhecimento. Mas que coisa está em suspenso no pensamento? pergunta Agamben que responde: é a voz, pois linguagem é e não é nossa voz. A defasagem (Agamben diz abismo) entre linguagem e voz é que chamamos mundo.
(...) Giorgo Agamben diz que na língua italiana a palavra pensamento tem por origem o significado de angústia, de ímpeto ansioso, que se encontra ainda na expressão familiar: stare in pensiero (estar atormentado). O verbo latino pendere, de onde deriva a palavra nas línguas romanas, significa estar suspenso. Agamben continua:
"Então, a fuga, a pendência da voz na linguagem deve ter fim. Podemos deixar de ter a linguagem, a voz, em suspensão. Se a voz jamais foi, se o pensamento é pensamento da voz, ele não tem mais nada a pensar. O pensamento cumprido não tem mais pensamento."
"Do termo latino que, por séculos, designou o pensamento, cogitare, na nossa língua, restou apenas um traço na palavra tracotanza (Arrogância, prepotência, insolência, atrevimento, petulância, presunção).
Ainda no século XIV, coto, cuitanza, queria dizer: pensamento. Através do provençal oltracuidansa, tracotanza provém do latino ultracogitare: exceder, passar o limite do pensamento, sobrepensar, spensare."


O latim "cogere" dá nossos verbos cogitar e excogitar, que significam pensar, inventar, refletir, idear, imaginar, cogitar traz uma raiz de prepotência, presunção. Mesmo cogitar em sua etimologia (Houaiss) [lat. cogìto,as,ávi,átum,áre '] é "agitar no espírito, remoer no pensamento", pensar, meditar, projetar, preparar'; [divg. vulg. de cogitar; ver cuid-; f.hist. (sXIV) coydar, (sXIV )cudar, (sXIV) cujdar, (sXV) quidar]. Assim, por outro lado, a origem do verbo cuidar é proveniente também do verbo latino cogitāre, cujo significado básico era pensar, meditar.
Cogito ergo sum, me dou conta de mim quando penso, só quando penso? O problema do método para assegurar, direcionar, assegurar um bom fim ao processo, delinear conceitos. Estes, por sua vez, significam tanto a ação de conter como o ato de receber, a germinação, o fruto, o feto, o pensamento (Cf. BRANDÃO).
Conceito, no dicionário AURÉLIO é definido como representação de idéias por meio de suas características gerais, é uma ordenação e um corte no conhecimento (fil.).
A etimologia da palavra conceito lembra Brandão: "Conceito deriva do latim conceptum e significa tanto pensamento e idéia quanto fruto ou feto. Concipere engloba tanto o significado mais comum de gerar e conceber quanto as ações de reunir, conter, recolher, absorver, fecundar, exprimir ou apreender espiritualmente alguma coisa. Como no grego logos, no qual se radicarão por exemplo "leitura" (legere) e "legume", a atividade mental de conceber é metáfora da atividade agrícola de colher algo que é oferecido pelo mundo e apropriado pelo espírito ou pela nossa vida prática.
Essa origem etimológica não é apenas uma abordagem erudita mas aponta para a ligação entre a teoria e a praxis, entre a linguagem e o mundo, entre o conceito e a existência cotidiana, entre a atividade abstrata do pensamento e o nosso modo concreto de estar e se relacionar com o mundo.

Por outro lado há críticos a noção de "contenção do conceitual pode ser entendida como contenda ou o encerrar. O conceituado cerra a passagem de qualquer diversidade de sentido que se diferencie do centro de concepção da ação de conter." (...) e "se estabelece por um contender contra o que contém aquilo que não consolide o saber como um conhecer seguro, sólido e sóbrio. A cautela e precaução do conceituar, entretanto, terminam por transformar o pensamento em um acervo de certezas. " (Prioste)
Também Gaston de Bachelard que Henri Bergson em sua sentença de que os conceitos são gavetas que servem para classificar os conhecimentos; que os conceitos são roupas de confecção que desindividualizam conhecimentos vividos, ainda que para cada conceito há uma gaveta no móvel das categorias. Deste modo segundo Bachelard, "o conceito é um pensamento morto já que é, por definição, pensamento classificado."
De acordo com Gaston de Bachelard, a memória não é uma faculdade de classificar numa gaveta ou de inscrição num registro. E critica, diante de qualquer objeto novo, a razão se pergunta:
“qual é, dentre as categorias antigas a que convém ao objeto novo?”
“Em que gaveta pronta para se abrir o colocaremos?
“Com que roupa já cortadas vamos vesti-lo?”
Pois efetivamente uma roupa de confecção basta para vestir um pobre racionalista.
Bachelard diz que a metáfora da gaveta é rudimentar e polêmica contra as filosofias do conhecimento. Para ele a gaveta carrega a imagem do "segredo".

Bachelard. A poética do espaço
Agamben. O fim do pesnsamento
Prioste. O delinquir do delirio. Manoel de Barros e a poesia. In. http://www.letras.ufrj.br/ciencialit/revista_garrafa9.html
Brandão. Linguagem e arquitetura: o problema do conceito

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