Mark Tansey Monte Sainte Victoire

sábado, 29 de outubro de 2011

Subjetividade- Unidade- absoluto - religiosidade/ românticos

A arte moderna revela sua essência no romantismo, a forma e o conteúdo da arte romântica são determinados pela interioridade absoluta. Mas também a arte moderna se apóia na poiesis- um fazer metodológico, ancorado numa objetividade racionalizada.
Seguindo a hipótese de Argan em seu livro “Arte Moderna” investiga-se neste momento os românticos, algumas questões filosóficas e seus desdobramentos (de forma sucinta, evidentemente).
Desde o cartesianismo, incluindo os empiristas está colocado o problema da subjetividade. 
A grande crise da metafísica aprofundada em David Hume (1711-1776) com a questão: Ao invés de perguntar o que é realidade? perguntava-se o que podemos conhece-la?
Outros empiristas foram contibuintes neste quesito, influenciando inclusive a criação da teoria do conhecimento: Francis Bacon (1561-1626) e Locke (1632-1704); dentre outros. Do ponto de vista da teoria do conhecimento a consciência é uma atividade sensível e intelectual dotada do poder de análise, síntese e representação. é o sujeito que dife-rencia-se dos objetos. Conhece-se a si mesmo no ato de conhecer - ato de reflexão. a consciência reflexiva ou sujeito do conhecimento.
A subjetividade torna-se sede da razão e do pensamento. E ocorre o deslocamento do interesse da filosofia do ser para o conhecer (crítica).
Com relação a Aufklärung (cujo emblema, Kant lembra, é "sapere aude", não sem que uma outra voz, aquela de Frederico II, diz em contraponto "que eles raciocinem tanto quanto querem contanto que obedeçam"), em todo caso, com relação a esse Aufklärung (iluminismo), como Kant vai definir a crítica? (Foucault In O que é a crítica?).
Foucault diz: "A mesma coragem de saber consiste em reconhecer os limites do conhecimento; e seria fácil mostrar que para ele a autonomia está longe de ser oposta à obediência aos soberanos. Mas disso não fica menos que Kant fixou para a crítica em seu empreendimento de desassujeitamento em relação ao jogo do poder e da verdade, como tarefa primordial (Foucault In O que é a crítica?).
Difunde-se que o ponto máximo da humanidade o racionalismo e entende a natureza dentro de um conceito funcional. Em nome  da razão se produziu o melhor da cultura da época: a ciência, a idéia de liberdade, de tolerância, de dignidade humana, a idéia de progresso, desenvolvimento. Gerd Borheim In. GUINSBURG, J. O Romantismo. São Paulo: Perspectiva, 1993. Mas há a reação às luzes (contra o iluminismo) cf. Rousseau, Herder.
O ponto de partida da doutrina de Rousseau é a interioridade, um voltar-se assim mesmo. Na base do pensamento de Rousseau e de todo pensmento moderno, encontramos uma atitude subjetiva. Enquanto no cartesianismo esgota-se no cogito, em Rousseau a interioridade é sinônimo de sentimento- é superior à razão. Gerd Borheim op. cit.
Os gênios como o Werther de Goethe procuram refúgio na natureza e inspirados em Rousseau procuram uma participação que dê primazia ao sentimento. O sentimento é tudo diz Goethe em Urfaust.
Os românticos procuram a autenticidade do homem e crêem que ela só pode se desenvolver a partir do sentimento interior da natureza. Insatisfeitos com a impessoalidade da razão, dão vaza à pessoalidade do sentimento. Gerd Borheim op. cit.
Herder (que influencia Hegel) convence tanto o Sturm und drang quanto Gothe da necessidade de valorização do elemento nacional
Em Fichte - (Ver Gerd Borheim In. GUINSBURG,p. 85), o mundo de Kant desdobra sua ética. "Assim, se o mundo animal é condicionado, submisso ao determinismo, o mundo espiritual, da moralidade, é incondicionado. Em sua moral, Kant parte do que chama 'imperativo categórico', um principio que não conhece condicionamento, que nos diz que devemos fazer nosso dever pelo dever mesmo." (Gerd BorheimIn. GUINSBURG,p. 85).
Essa radical oposição entre mundo da natureza e mundo espiritual encontra nos pós kantianos diversos esforços de superação. Fichte é considerado o mais audaciosos, pois procura resolver não apenas as antinomias kantianas porém procura um "princípio superador, unificador de todos os dualismos e que justifique toda a realidade" (Gerd BorheimIn. GUINSBURG,p. 85, 86). Em sua teoria da Ciência Fichte busca "um princípio que permita uma compreensão "una" de tudo o que existe". Não um princípio lógico mas metafísico que deve ser ativo, dinâmico, pois "só assim poderá explicara a relaidade". Não basta que seja apenas um fato mas deve ser "ação efetiva". Este principio Fichte cham de Eu, entendido como "autoconsiência pura". Não se trata de um eu particular de cada um, mas é um princípio supra- compreender o advento do eu individual e do mundo que o cerca. Este Eu puro permite Para alcançar este Eu puro o caminho é a intuição intelectual. A atitude inicial do filósofo deve ser, de acordo com Fichte, "pensa-te-a ti mesmo"(Gerd BorheimIn. GUINSBURG,p. 86).
Este Eu de Fichte é o dinamismo responsável por tudo, por toda a realidade (Gerd BorheimGUINSBURG,p. 87).
O pecado original ver Gerd Borheim (Gerd BorheimIn. GUINSBURG,p. 87).
"O pecado original do homem, a atitude antifilosófica por excelência, está na autolimitação ao finito, ao limitado do eu empírico, no tomar do mundo das representações como sendo a realidade última; o maior pecado do homem é o pecado contra a própria interioridade, a recusa do Absoluto e a consequente limitação ao não-eu. Precisamente por esta razão faz-se mister distinguir o Eu do Não-eu".



O que tanto entusiasmou os românticos em Fichte. Um dos seus problemas fundamentais é o da intersubjetividade, a intercomunicação das conciências, e o problema do Absoluto, de Deus. A chave da compreensão do romantismo é a unidade (Gerd Borheim In. GUINSBURG,.91) ver tbm Gerd Borheim In. GUINSBURG, 102 Schelling. Schleiiermacher – sinto logo sou – sinto o que o universo (religiosidade). A obsessão do romântico pelo absoluto, a totalidade. Gerd Borheim In. GUINSBURG,op. cit.
O Eu não é uma substância ou coisa determinada, mas vida pura, ação pura, dotada de força produtiva, criadora. Fitchte diz que "o obrar precede o ser (compreendido o ser como realidade produzida." A atividade criadora do Eu Fichte designa "imaginação produtora". Contudo, enfim a chave última para entender o sistema de Fichte está na razão prática: a moralidade, a liberdade. (Gerd Borheim GUINSBURG,p. 88). "A razão prática é a raiz de toda razão".
O que entusiasmou tanto os românticos por Fichte pergunta Gerd Borheim? (In GUINSBURG,p. 86)
Uma das categorias fundamentais que permite compreender o romantismo é a da unidade. Pode-se dizer que todo "movimento desdobra-se sob o signo da unidade" (Gerd Borheim p. 91). Enquanto na França a unidade tende a realizar-se na política, na Alemanha se coloca no campo da cultura. Manifesta-se na filosofia, na ciência, na arte "em todos os aspectos da cultura busca-se sempre a fusão numa unidade superior" perseguindo "uma concepção "una da realidade".
De Schleiermacher os românticos herdam a idéia de que o método não pode ser lógico nem racional mas sentimento, coração. Schleiermacher nega o cogito ergo sum e diz "sinto, logo sou". Para ele a vida do sentimento é tudo, é a única via de salvação do homem.
Entretanto Borheim diz que não é justo afirmar de modo taxativo que os romanticos abominam a razão, contudo o sentimento tem um lugar privilegiado em sua postura. A sua obsessão é o "absoluto, a totalidade" (Gerd Borheim GUINSBURG, p.95).
Os românticos são insatisfeitos, nostálgicos (Novalis) carregam a atitude básica sentimental e relgiosa (Gerd Borheim GUINSBURG,p.95). Esta é uma razão de muitos ataques por parte de Nietzsche (que veremos logo mais em novas postagens).


Referências
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo. Companhia das Letras, 1992.
BORHEIN, Gerd. Filosofia do romantismo. In. GUINSBURG, J. O Romantismo. São Paulo: Perspectiva, 1993.
imagens: filme Fausto - Título Original: Faust - Eine deutsche Volkssage - Alemanha, 1926. Direção: F.W. Murnau. Elenco: Gusta Ekman, Emil Jannings, Camilla Horn, Wilhelm Dieterle, Yvette Guilbert.
Sinopse: Fausto é um alquimista que faz um pacto com o Diabo, dando-lhe a sua alma em troca de conhecimento sobre todas as coisas do mundo, mas se apaixona por uma moça, Margarida, e tenta desfazer o acordo.
In http://cultmovies.multiply.com/journal/item/93

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